quinta-feira, 30 de abril de 2009

Universalismo X relativismo

Alguns posts atrás, escrevi sobre o velho debate entre cultura e biologia, e citei um artigo em que Dráuzio Varella comenta como essa dicotomia é ultrapassada. Neste post de hoje, gostaria de falar brevemente sobre outra antiga e importante discussão nas ciências humanas e na filosofia: relativismo versus universalismo.

Há graus de relativismo e diferenças entre seus adeptos, mas, de modo geral, ele consiste num olhar nas diferenças culturais entre os povos. Cada sociedade compartilha de seu próprio e singular universo simbólico; cada povo não apenas cultiva determinados costumes, como vê o mundo com olhos já mergulhados nesses costumes. E, por mais que tentemos nos colocar na pele do outro, nunca conseguiremos agir como se tivéssemos nascido naquela cultura. Nosso olhar já está imerso no nosso ponto de vista, na maneira como vemos as coisas.

Os autores Thomas Eriksen e Finn Nielsen comentam, em “História da Antropologia” (Petrópolis: Vozes, 2007), citando o livro “The Idea of a Social Science and Its Relation to Philosophy”, do filósofo Peter Winch: “Winch sustenta no livro que não existe uma posição privilegiada, a partir da qual se possa comparar e analisar outras culturas. Seria impossível estabelecer conhecimento objetivo, ‘testável’ sobre fenômenos culturais, uma vez que o significado desses fenômenos é definido pelo universo cultural de que eles fazem parte”.

Temos aí um gancho para os universalistas. Pois eles, ao contrário, querem justamente encontrar essa posição privilegiada, não se baseando no que as culturas têm em particular, mas no que o ser humano tem em comum. E o que o ser humano teria em comum? O uso da razão? Do bom senso? A auto-evidência de direitos como à vida, à não-violência, à igualdade? Ou esses direitos – fundados no Iluminismo, defendidos pela ONU – são, também eles, culturais? Não há como fugir da cultura? Não há como falar em direitos iguais para homens diferentes?

Cito aqui Robert Sokolowski, em “Introdução à fenomenologia” (Sâo Paulo: Edições Loyola, 2004), num trecho não propriamente sobre essa discussão, mas sobre uma característica que os seres humanos teriam em comum, de acordo com a fenomenologia: a racionalidade e, com ela, a capacidade de ver a verdade das coisas. “A luz da razão abre o espaço das razões, o reino dos fins. (...). Nossa fala não é apenas um tagarelar entre nós mesmos; é também, se escaparmos da névoa da vaguidade, a revelação das coisas, que vêm à luz naquilo que dizemos”.

Podemos mesmo revelar as coisas? Ou estamos fadados a viver no relativismo cultural? Ou, mais ainda, há um meio termo dentro dessa dicotomia?

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