terça-feira, 21 de abril de 2009

O artista e o observador

Uma pergunta frequente em entrevistas com artistas é se determinada interpretação de sua obra está correta ou incorreta. Em exposições, já observei visitantes perguntando-se se estão tendo uma leitura adequada da obra e, em caso negativo, qual seria o significado adequado. Já vi pessoas que, após se emocionarem com um romance, lêem uma crítica a respeito e sentem-se mal por não terem alcançado “o sentido” do livro.

Interpretação, leitura, significado, sentido. É claro que, numa análise mais precisa sobre as obras de arte, tais termos precisam ser bem definidos. De qualquer modo, quando se trata de admirar uma obra de arte, a apropriação do observador não precisa coincidir com a do artista. São duas esferas distintas. Por um lado, há a intenção do artista. O que ele quis passar, que reflexões quis suscitar, que respostas e perguntas procurou despertar. Por outro, a recepção do observador, leitor, espectador. Além de permeada pela cultura e pelo tempo – assim como a criação do artista –, essa recepção depende de uma boa dose de subjetividade: da bagagem emocional que ele tem, das visões que acumulou ao longo da vida, dos ângulos pelos quais costuma observar as coisas.

Erramos quando queremos que nossa interpretação corresponda necessariamente à interpretação do artista e, mais que isso, ao “objetivo” daquela obra; quando julgamos que a do artista é a única ou a mais correta; quando nos esforçamos para engessar a pluralidade de significados contida naquela obra.

Na minha opinião, não se trata de perguntar se determinada interpretação de certa obra está incorreta ou correta. Obedecendo-se aos limites da coerência – uma interpetação de um texto que entra em contradição com o próprio texto é inadequada, ou nosso relativismo nos expulsará do território da lógica –, trata-se de botar cada coisa em seu lugar. A intenção do artista, no artista. A leitura do observador, no observador. Não precisa haver coincidência entre as duas. Para que haver certo e errado se há espaço para a pluralidade? Não há romance, pintura, poema ou música que não seja vivo, pulsante e rico em interpretações que, ao mesmo tempo, são diferentes e verdadeiras.

Livro interessante que traz visões de vários autores sobre a arte, em seus mais variados enfoques: Antropologia da Arte. Layton, Robert. Lisboa: Edições 70.

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