segunda-feira, 6 de abril de 2009

O ausente em nossas vidas

Saudade. Esperança. Rancor. Medo. O que esses sentimentos têm em comum?

Todos dizem respeito não a coisas que estão presentes, mas ao ausente. Sinto saudade de alguém que está fora do meu campo de visão, mas dentro do meu peito. Tenho esperança de que algo ocorra. Tenho rancor de algo que já foi. Temo o que ainda não ocorreu.

Não nos relacionamos apenas com o presente; não é apenas o que está diante dos nossos olhos que tem o poder de nos afetar. Somos seres que vivem conscientemente: temos um passado, criamos expectativas em relação ao futuro e enfeitamos nosso presente com sentimentos e sensações que não se dirigem ao imediatamente palpável. Procuramos o livro que não está aqui, esperamos ansiosos a sessão de cinema que ainda não começou, pensamos na consulta que ainda não aconteceu, tentamos escrever um texto que ainda não existe, lembramos do que comemos no dia anterior, desejamos estar em outro espaço e outro tempo. São tempos vazios, espaços vazios: não estão conosco agora.

A importância do vazio e nossa relação com o ausente são assuntos fundamentais na filosofia de Husserl (1859-1939), o pai da fenomenologia. Fenomenologia é a doutrina filosófica que estuda o modo como as coisas aparecem para nós e como nos relacionamos com essas coisas. O contato da nossa consciência com o mundo – do qual ela não pode existir separadamente – é um assunto que aparece em Descartes, em Kant e tantos outros filósofos. Mas a fenomenologia traz nova luz a essas questões. Por exemplo, a diferenciação entre o presente e o ausente. E a importância do ausente, que, como você pode ver, é bem presente em nossas vidas.

Para quem se interessar sobre o tema: Investigações Lógicas, Husserl. São Paulo: Coleção Os Pensadores, várias edições. E Introdução à Fenomenologia, Sokolowski. São Paulo: Edições Loyola, 2004.

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