segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Mais sobre cultura e biologia

Guardei um artigo que Drauzio Varella escreveu para a Folha de São Paulo em 03/01/09, na Ilustrada. O título é “Genética e comportamento social” e trata do mesmo tema abordado no post anterior – biologicamente determinado versus culturalmente adquirido, ou, nas palavras dele, “o velho debate entre os genes e a experiência vivida”. Varella é médico, como todos sabem, e, no artigo, fala dos avanços da neurogenética. “A partir dos anos 1990, com a explosão da neurogenética, aprendemos que as influências genéticas existem, são fundamentais, mas que os genes interagem com o ambiente de forma muito mais complexa, mutável e imprevisível do que poderia sonhar nossa vã filosofia de temos atrás”. Alguns parágrafos adiante: “As moléculas que constituem nosso DNA não traçam nosso destino, mas sob a influência dos estímulos ambientais sofrem arranjos e rearranjos que explicam a incrível diversidade humana”.

Achar o gene que é responsável por um comportamento x (ter habilidade para tocar um instrumento, por exemplo) já é complicado, porque os genes interagem entre si, de modo que não saibamos muito bem qual gene foi responsável por qual parte do resultado. Para piorar a história, eles – os genes – interagem com o meio ambiente (os costumes, a educação...) de várias maneiras. O exemplo que o autor dá são dois gêmeos idênticos: o mesmo acontecimento vivido pelos dois é apropriado por cada um de maneira diferente. “Os efeitos da mesma informação social sobre as funções cerebrais que sofrem influência dos genes envolvidos no comportamento diferem de um indivíduo para outro, como as impressões digitais”.

Drauzio termina dizendo que as recentes pesquisas em torno dessa questão vão permitir entender melhor distúrbios como depressão, autismo, esquizofrenia e outros. Eu vou terminar o post otimista com essas melhoras, mas perguntando pela poesia do mundo. Tudo no universo tem uma causa determinada e, com séculos de pesquisa, essas causas serão encontradas? Explicações simplistas como “Fulano é assim porque a família é assado” são questionáveis, claro – e até um pouco irritantes. Afinal, as pessoas são complexas demais para serem encerradas em proposições assim. Mas será que constatações como “Joana tem jeito para a música” ou até mesmo “Joana se apaixonou por Igor” serão mapeadas a ponto de sabermos quanto elas devem a cultura, quanto elas devem aos genes e a quais genes, e a qual modo de interação entre os genes e a cultura, e em que condições, e sob que circunstâncias...

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