sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Cultura justifica tudo?

Na China, os deficientes físicos encontram dificuldades para ser incluídos na sociedade por esbarrarem em "questões culturais". No Brasil, tudo bem os homens olharem de cima a baixo as mulheres que passam na rua e, eventualmente, lançarem uma cantadinha barata: faz parte da nossa "cultura". E como justificar a burca, o furo na orelha, a aliança no dedo esquerdo? Cultura, cultura, cultura.

Bom. O melhor jeito de começar este debate aqui no blog seria definindo o que, afinal de contas, entende-se por "cultura". Pretendo dar algumas definições de alguns autores interessantes. Mas não hoje: por hora, fique com a definição que você certamente tem de cultura, mesmo que não a coloque em palavras. Neste post, tudo o que farei é levantar justamente esta questão: até que ponto a cultura serve como explicação para os mais variados comportamentos existentes numa sociedade?

Para Adam Kuper, autor do ótimo livro "Cultura, a visão dos antropólogos" (Bauru, SP: EDUSC, 2002), todo cuidado é pouco na hora de eleger a cultura como justificativa para os mais diversos fatos. Ela explica alguma coisa, mas não tudo. E mais: ela, a cultura, também pode ser explicada. Uma sociedade X não tem determinada cultura por motivos arbitrários - e o interessante pode ser justamente investigar que fatores (econômicos, sociais, políticos) fizeram com que aqueles determinados aspectos culturais se desenvolveram naquele povo.

Kuper desconfia das razões de movimentos sociais pautados pelo nacionalismo, identidade étnica e religião - movimentos que invocam a tal da cultura para justificar a ação política. Independentemente de concordar com a posição dele ou não, vale a pena pensar a respeito. Aí vai um trecho interessante (e provocativo) do livro, na página 23:

"Akio Morita, um dos fundadores da Sony, rebate as alegações de que o Japão deveria liberalizar seus acordos de comércio para permitir uma maior competição de empresas estrangeiras. 'Reciprocidade', explica ele, 'significaria alterar as leis para aceitar sistemas estrangeiros que podem não ser adequados à nossa cultura'. (Felizmente, vender televisores Sony para os americanos e filmes hollywoodianos está perfeitamente de acordo com a cultura japonesa.)"

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